"Operacional, caveira... e sozinho na hora do aperto?"
Reflexão sobre o culto ao destaque na tropa
Para quem vive o dia a dia da rua, essas situações não são surpresas — apenas mais um episódio em que a corda arrebenta do lado mais fraco.
Nos bastidores, o sentimento é claro: “Isso aí deve ser tudo operacional, tudo caveira… e aí acontece isso aí, ó”. Muitos que se dedicam ao extremo, que se lançam na linha de frente, acabam sozinhos quando a maré vira. E a pergunta que ecoa é simples e dolorosa: vale mesmo a pena?
Não se trata de defender o erro, mas de entender o contexto. Há militares que vivem em busca de destaque operacional, que arriscam a própria vida (e a dos outros) por um papel, um elogio, um reconhecimento efêmero. Tudo isso para projetar oficiais que sequer pisam na rua. Uma lógica perversa, alimentada por uma cultura que valoriza números e estatísticas acima do equilíbrio emocional e da legalidade.
“Tem cara que quase morre, quase mata outros… tudo pra ganhar um papel. Enquanto isso, os superiores recebem os louros. E a instituição? Some na hora em que o militar precisa de apoio.”
O desabafo é recorrente. Alertas são dados entre os mais antigos, conselhos são oferecidos aos novatos. Mas o ciclo se repete, impulsionado por uma cobrança invisível — mas cruel — por resultados a qualquer custo.
É preciso repensar. A sociedade quer segurança, sim. Mas precisa compreender que essa segurança não pode vir de um sistema que empurra seus agentes para o limite, e depois os abandona.
“Tem que segurar a onda, cara.” No fim das contas, o que vale é voltar pra casa inteiro, com a consciência tranquila. Ser sensato, hoje, é um ato de coragem. Resistir à cultura do “boi de comandante” é, talvez, o maior ato de lealdade à própria farda.
Blog da Renata Pimenta
Desde 2007, dando voz aos bastidores da segurança pública com respeito, responsabilidade e verdade.