domingo, 20 de abril de 2025

Desabafo de um ex-militar: quando o peso não é o fardo da farda, mas quem a comanda




Desabafo de um ex-militar: quando o peso não é o fardo da farda, mas quem a comanda

"Renata, boa tarde, minha querida.

Li a matéria ( Militares morrem mais por suicidi0 que no próprio combate ao crim$)

e achei muito boa. Mas queria deixar um desabafo que talvez ajude a levantar uma pauta urgente: o número de baixas na instituição. Muitas dessas saídas — como a minha, por exemplo — não são simples decisões pessoais. São resultados de um desgaste emocional profundo, de um estresse acumulado ao longo dos anos, muitas vezes causado por quem deveria liderar com responsabilidade.

Não foi um ato isolado. Foi uma sequência de situações, pequenas e grandes, que me corroeram por dentro. A tropa está adoecendo, silenciosamente. Muitos acabam saindo, outros desistem da vida. Estamos perdendo profissionais apaixonados pela missão, qualificados, vocacionados. E por quê? Porque estão sendo destruídos por dentro, por comandantes que tratam a tropa como descartável.

No meu caso, eu já não dependia financeiramente da PM há muito tempo. Poderia ter ido embora em paz. Mas só decidi sair quando percebi que continuar seria me submeter a uma rotina de covardias. O comandante da companhia estava adoecendo todo mundo. Era visível. E eu pensei: 'Não preciso mais disso.'

Agora imagina os que precisam? Os que não têm opção? Esses continuam, mesmo que isso custe a saúde mental, a família, a paz.

Alcoolismo, crimes passionais, violência no serviço... Tudo isso está virando algo natural. Como se fosse parte do pacote. Mas não é. Não pode ser.

Agradeço demais pela sua exposição nas redes. Você dá voz a quem não pode falar. Porque a gente sabe o que acontece com quem fala. É foda... A gente sente pelos companheiros. Mas, infelizmente, a vida segue.

Deus abençoe seu familiares. E obrigado por seguir lutando com a gente, mesmo de fora."