Carta de despedida de um ex-PM que escolheu a dignidade
Por Cabo Domingos
Hoje me despeço oficialmente da Polícia Militar de Minas Gerais. Foram 13 anos de serviço, de aprendizados, alegrias e dores. Saio de cabeça erguida, com o coração leve e a certeza de que a decisão foi a melhor. Deus me deu a oportunidade de sair com saúde, com dignidade e com a alma limpa — e por isso sou grato.
Não carrego saudade. Carrego consciência. A mentira de quem deveria comandar com verdade, o uso descarado do cargo para interesses pessoais e o descaso com quem veste a farda todos os dias foram corroendo o que um dia foi sonho.
Tentei sair pela porta da frente, pedi minhas férias prêmio vencidas. A resposta foi: "Não será deferida. Se quiser receber, entre na Justiça." Esse é o tratamento da instituição bi-centenária com seus soldados — ou melhor, com os que deixam de ser úteis. Cansado de implorar pelo que é meu por direito, preferi abrir mão dos benefícios, mas manter minha dignidade.
Hoje, não há mais anonimato. A administração não pode mais me perseguir. Agora sou apenas eu, um ex-policial que encontrou uma nova estrada.
Recebi essa proposta em janeiro de 2024. Pensei muito até agora. E hoje, finalmente, abri a porta para a felicidade. Porque nessa instituição, a única promessa firme era a de reserva. Nem férias prêmio eles cumprem. Quem garante que amanhã não mudariam de ideia de novo?
Rezei muito, pedi a Deus, e fui. E Ele me honrou.
Aos colegas que continuam, desejo força e fé. A vocês que me apoiaram, como o blog da Renata Pimenta, meu muito obrigado. O trabalho de vocês tem sido fundamental para dar voz aos que não podem falar. Continuem firmes.
A PM agora é apenas lembrança. Um dia foi sonho. Hoje, é passado.
Cabo Domingos
