Lucas Maciel
Após a recente greve do transporte público em Divinópolis e a possibilidade de paralisação dos servidores municipais — que foi rejeitada em assembleia na última semana — a categoria que se encontra em luta, e não é de hoje, por seus direitos e ameaçando paralisar suas atividades, caso não haja acordo, é a dos policiais de Minas Gerais. Os servidores têm pressionado o governo do Estado por melhorias salariais, especialmente no que diz respeito à recomposição das perdas inflacionárias acumuladas ao longo dos últimos anos.
Com uma inflação que impactou os salários, os policiais civis, militares e penais estão buscando a recomposição, para recuperar o poder de compra perdido e garantir uma remuneração mais condizente com as funções exercidas.
Situação
O Agora conversou com o sargento Walter Carvalho, fundador da Associação Central Única dos Militares Estaduais (Cume) e ex-presidente por dois mandatos, que compartilhou a visão sobre a situação da segurança pública em Minas Gerais e as promessas não cumpridas pelo governo de Romeu Zema (Novo).
Segundo ele, a categoria está sofrendo com o descaso do governador, especialmente após a troca do Comandante- Geral da Polícia Militar, o coronel Rodrigo Piassi, que defendia os interesses da segurança e deixou o comando em setembro do ano passado.
— Ele [Piassi] defendia a paridade e integralidade dos salários, mas foi trocado porque estava lutando pelos nossos direitos — afirmou Carvalho.
Promessas
O sargento detalhou as promessas do governador durante a campanha eleitoral, quando Zema se comprometeu a fazer a reposição das perdas inflacionárias dos policiais. No entanto, após enviar ao Legislativo uma proposta de três parcelas de 12%, que foi aprovada, o governo pagou apenas uma parcela e deixou de cumprir com a reposição das perdas salariais dos últimos dois anos. Para Carvalho, a situação é grave, com muitos militares enfrentando endividamento, sem a possibilidade de complementar a renda, já que é proibido por lei realizar outro trabalho.
— A situação está insustentável. Temos militares em desespero, sem condições dignas de trabalho e com a pressão psicológica cada vez maior — lamentou.
A crítica do sargento se estende à medida do governo de criar um vale alimentação, benefício que, segundo ele, foi destinado exclusivamente aos policiais da ativa, criando um distanciamento entre os ativos e os veteranos, pensionistas e reformados.
— Somos uma polícia de 250 anos de história e merecemos ser tratados com respeito, sem divisão entre as categorias. Não estamos pedindo aumento, apenas a reposição das perdas inflacionárias para garantir dignidade e condições de trabalho — destacou.
Ele também lembrou que o governo de Zema, além de não fazer a reposição salarial, fez um desconto indevido da previdência dos militares estaduais, contrariando uma lei estadual que previa um desconto de 8%.
— O governo tentou aumentar o desconto para 10,5% com base em uma lei federal, mas o STF declarou isso inconstitucional — explicou.
O sargento ainda criticou a postura do governador em tentar forçar esse desconto e denunciou que muitos companheiros têm cometido suicídio devido ao estresse causado pela situação.
Greve de 97
Por fim, ele fez um alerta sobre a crescente insatisfação dentro da categoria, dizendo que as forças de segurança estão unidas e prontas para tomar medidas mais drásticas.
— O governo está brincando com a segurança pública. Se ele continuar com esse tratamento, vai se arrepender. A greve de 97 foi um marco, e estamos chegando a um ponto onde a paralisação total da polícia pode ser a única saída. Acho que a insatisfação é tão grande quanto a de 1997 — concluiu.
Reunião
Dando continuidade às discussões, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) foi palco, na manhã da última terça-feira, 18, de uma audiência, na qual deputados e representantes sindicais das forças de segurança pública pressionaram o governo estadual.
A reunião, convocada pela Comissão de Segurança Pública, teve um tom de alerta. Os representantes dos policiais avisaram que, se suas demandas não forem atendidas, podem parar suas atividades, o que afetaria diretamente a segurança pública do estado.
Inflação
O deputado Sargento Rodrigues (PL), responsável pelo requerimento que originou a reunião, destacou as disparidades entre os reajustes propostos pelo governo e a inflação acumulada. Ele revelou que, nos últimos dez anos, a inflação atingiu 74,89%, enquanto os reajustes oferecidos pelo governo Zema somaram apenas 30,01%, resultando em uma perda salarial de 44%. Para Rodrigues, essa defasagem é inaceitável, principalmente comparando a situação atual com o passado.
— No governo de Itamar Franco, o piso salarial da Polícia Militar era de cinco salários mínimos. Só com o aumento de 44% se chega nesse patamar de novo — reforçou.
O deputado também questionou as justificativas do governo sobre a falta de recursos para atender à reivindicação. Ele apontou que, em 2024, Minas Gerais teve um superávit fiscal de R$ 5 bilhões e citou a Lei de Responsabilidade Fiscal, que permitiria a recomposição salarial, mesmo diante da atual situação fiscal do estado