terça-feira, 25 de março de 2025

A insatisfação é tão grande quanto a de 1997’, afirma fundador de associação de policiais sobre greve


‘A insatisfação é tão grande quanto a de 1997’, afirma fundador de associação de policiais sobre greve

Forças de segurança reivindicam recomposição salarial; governo do Estado afirma que equilíbrio fiscal é prioridade

Lucas Maciel

Após a recente greve do transporte público em Divinópolis e a possibilidade de paralisação dos servidores municipais — que foi rejeitada em assembleia na última semana — a categoria que se encontra em luta, e não é de hoje,  por seus direitos e ameaçando paralisar suas atividades, caso não haja acordo, é a dos policiais de Minas Gerais. Os  servidores têm pressionado o governo do Estado por melhorias salariais, especialmente no que diz respeito à recomposição das perdas inflacionárias acumuladas ao longo dos últimos anos.

Com uma inflação que impactou os salários, os policiais civis, militares e penais estão buscando a recomposição, para recuperar o poder de compra perdido e garantir uma remuneração mais condizente com as funções exercidas. 

Situação

Agora conversou com o sargento Walter Carvalho, fundador da Associação Central Única dos Militares Estaduais (Cume) e ex-presidente por dois mandatos, que compartilhou a visão sobre a situação da segurança pública em Minas Gerais e as promessas não cumpridas pelo governo de Romeu Zema (Novo). 

Segundo ele, a categoria está sofrendo com o descaso do governador, especialmente após a troca do Comandante- Geral da Polícia Militar, o coronel Rodrigo Piassi, que defendia os interesses da segurança e deixou o comando em setembro do ano passado. 

— Ele [Piassi] defendia a paridade e integralidade dos salários, mas foi trocado porque estava lutando pelos nossos direitos — afirmou Carvalho.

Promessas

O sargento detalhou as promessas do governador durante a campanha eleitoral, quando Zema se comprometeu a fazer a reposição das perdas inflacionárias dos policiais. No entanto, após enviar ao Legislativo uma proposta de três parcelas de 12%, que foi aprovada, o governo pagou apenas uma parcela e deixou de cumprir com a reposição das perdas salariais dos últimos dois anos. Para Carvalho, a situação é grave, com muitos militares enfrentando endividamento, sem a possibilidade de complementar a renda, já que é proibido por lei realizar outro trabalho. 

— A situação está insustentável. Temos militares em desespero, sem condições dignas de trabalho e com a pressão psicológica cada vez maior — lamentou.

A crítica do sargento se estende à medida do governo de criar um vale alimentação, benefício que, segundo ele, foi destinado exclusivamente aos policiais da ativa, criando um distanciamento entre os ativos e os veteranos, pensionistas e reformados. 

— Somos uma polícia de 250 anos de história e merecemos ser tratados com respeito, sem divisão entre as categorias. Não estamos pedindo aumento, apenas a reposição das perdas inflacionárias para garantir dignidade e condições de trabalho — destacou.

Ele também lembrou que o governo de Zema, além de não fazer a reposição salarial, fez um desconto indevido da previdência dos militares estaduais, contrariando uma lei estadual que previa um desconto de 8%. 

— O governo tentou aumentar o desconto para 10,5% com base em uma lei federal, mas o STF declarou isso inconstitucional — explicou.

O sargento ainda criticou a postura do governador em tentar forçar esse desconto e denunciou que muitos companheiros têm cometido suicídio devido ao estresse causado pela situação. 

Greve de 97

Por fim, ele fez um alerta sobre a crescente insatisfação dentro da categoria, dizendo que as forças de segurança estão unidas e prontas para tomar medidas mais drásticas. 

— O governo está brincando com a segurança pública. Se ele continuar com esse tratamento, vai se arrepender. A greve de 97 foi um marco, e estamos chegando a um ponto onde a paralisação total da polícia pode ser a única saída. Acho que a insatisfação é tão grande quanto a de 1997 — concluiu.

Reunião

Dando continuidade às discussões, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) foi palco, na manhã da última terça-feira, 18, de uma audiência, na qual deputados e representantes sindicais das forças de segurança pública pressionaram o governo estadual.

A reunião, convocada pela Comissão de Segurança Pública, teve um tom de alerta. Os representantes dos policiais avisaram que, se suas demandas não forem atendidas, podem parar suas atividades, o que afetaria diretamente a segurança pública do estado.

Inflação

O deputado Sargento Rodrigues (PL), responsável pelo requerimento que originou a reunião, destacou as disparidades entre os reajustes propostos pelo governo e a inflação acumulada. Ele revelou que, nos últimos dez anos, a inflação atingiu 74,89%, enquanto os reajustes oferecidos pelo governo Zema somaram apenas 30,01%, resultando em uma perda salarial de 44%. Para Rodrigues, essa defasagem é inaceitável, principalmente comparando a situação atual com o passado. 

— No governo de Itamar Franco, o piso salarial da Polícia Militar era de cinco salários mínimos. Só com o aumento de 44% se chega nesse patamar de novo — reforçou. 

 O deputado também questionou as justificativas do governo sobre a falta de recursos para atender à reivindicação. Ele apontou que, em 2024, Minas Gerais teve um superávit fiscal de R$ 5 bilhões e citou a Lei de Responsabilidade Fiscal, que permitiria a recomposição salarial, mesmo diante da atual situação fiscal do estado

Sindicatos

A pressão sobre o governo também foi reforçada pelos representantes sindicais das polícias Civil, Militar e Penal. Durante a audiência, participaram os presidentes do Sindicato dos Policiais Penais, Jean Otoni; do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil, Wemerson Silva de Oliveira; e o vice-presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia, Márcio Simões Nabak. 

Eles destacaram que os policiais têm trabalhado em condições adversas e que o governo precisa reconhecer a importância de valorizar os servidores da segurança pública. A insatisfação entre os policiais, que já enfrentam desafios diários em suas funções, continua a crescer, o que pode levar a mobilizações ainda mais intensas, incluindo a possibilidade de uma paralisação total das forças de segurança.

Sem solução

Ao final da reunião, o secretário de Estado de Fazenda, Luiz Cláudio Fernandes Lourenço Gomes, foi recebido com protestos do público presente, após afirmar que não seria possível atender à demanda de recomposição salarial enquanto o estado estivesse enfrentando dificuldades fiscais. 

A fala foi vista como uma negativa às reivindicações, o que intensificou a frustração dos presentes. Caso o governo não apresente uma resposta positiva, a paralisação das atividades da segurança pública pode se tornar realidade. 

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