O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), se reuniu com a bancada do Partido Liberal (PL) da Assembleia Legislativa nesta segunda-feira. Integrantes da base do governo, os seis deputados costumeiramente votam contra os interesses da Cidade Administrativa e acumularam rusgas com a gestão nas eleições municipais. O apoio ao candidato derrotado à prefeitura de Belo Horizonte, Bruno Engler, ocorreu apenas no segundo turno, e de forma tímida.A fim de colocar as diferenças de lado, Zema esteve com os deputados já de olho em 2026. A reunião foi interpretada como uma sinalização de um desejo de que PL e Novo e PL estejam juntos nas eleições ao governo do estado, no intuito de frear a esquerda na disputa.
A movimentação do governador tem como pano de fundo a já existência de dois nomes colocados. O candidato de Zema é o vice-governador Mateus Simões (Novo), mas o senador bolsonarista Cleitinho (Republicanos), já aparece com mais folego eleitoral e tem uma maior proximidade com o PL, podendo até mesmo trocar de partido para concorrer.
Na semana passada, a pesquisa Quaest colocou Cleitinho em primeiro lugar, com 26% das intenções de voto. Simões, por sua vez, seria o candidato menos viável entre os nomes testados, com 2%.
Neste contexto, durante conversa com jornalistas nesta sexta-feira, Zema reiterou em duas ocasiões que seu indicado será Mateus Simões. Ele elogiou o papel que seu vice tem desempenhado na gestão. A movimentação política do governador ocorre em meio à articulação de bolsonaristas por Clei
tinho.Bolsonarista ganha força
Após meses de costura nos bastidores, Cleitinho externou em outubro seu desejo de concorrer ao governo do estado no último sábado, durante carreata com Jair Bolsonaro (PL). Ele disse estar à disposição para representar o ex-presidente na esfera estadual.
— Se o Nikolas (Nikolas Ferreira, deputado federal pelo PL) quiser ser candidato a governador, eu apoio ele. Não tem problema nenhum. Agora, quem vai decidir o que vai ser é o povo. Se o povo quiser, também estou à disposição — disse Cleitinho em entrevista ao jornal "O Tempo".
A relação de Cleitinho com PL sempre foi positiva, tendo feito campanha para Bruno Engler desde o primeiro turno, mesmo com o Republicanos tendo lançado a candidatura de Mauro Tramonte, que ficou em terceiro lugar na corrida.
Em contraposição, apesar de governista, o PL integra uma bancada que rotineiramente vota contra os interesses da Cidade Administrativa na Assembleia Legislativa.
No Republicanos, integrantes do partido já dão como certa sua candidatura, o que inclusive atrapalhou os planos do ex-prefeito Alexandre Kalil, que iria se filiar ao partido para disputar o pleito de 2026.
— Buscamos o crescimento do partido. Temos uma projeção para 2026. Temos nomes para o governo e senado do estado. Para disputar o governo é o Cleitinho — afirmou o presidente estadual do Republicanos, o deputado federal Euclydes Pettersen.
O globo
ANALISE
O cenário político em Minas Gerais revela uma disputa acirrada entre diferentes forças dentro do campo conservador, evidenciando desafios para o governador Romeu Zema na construção de sua estratégia para 2026. A reunião de Zema com a bancada do PL, um grupo que frequentemente vota contra os interesses do governo na Assembleia Legislativa, demonstra sua tentativa de superar diferenças e criar um ambiente mais favorável para sua sucessão. Essa articulação busca garantir o apoio do PL ao vice-governador Mateus Simões, escolhido por Zema para dar continuidade à sua gestão. No entanto, Simões enfrenta dificuldades significativas, aparecendo como o candidato menos viável nas pesquisas, com apenas 2% das intenções de voto.
Enquanto isso, o senador bolsonarista Cleitinho, do Republicanos, desponta como o principal nome no campo conservador, liderando com 26% das intenções de voto, segundo pesquisa Quaest. Sua proximidade com o PL e o apoio explícito de Jair Bolsonaro fortalecem sua posição e tornam sua candidatura um ponto de consenso para boa parte do eleitorado bolsonarista. Cleitinho já declarou estar à disposição para concorrer ao governo e também demonstrou habilidade política ao sinalizar apoio a Nikolas Ferreira, caso este decida se lançar como candidato.
A força de Cleitinho, contudo, cria tensões dentro do Republicanos, onde sua candidatura é vista como certa. Isso inviabilizou, por exemplo, os planos de Alexandre Kalil, que pretendia se filiar ao partido para concorrer ao governo. Essa movimentação reflete a disputa de poder dentro do próprio campo conservador, onde lideranças buscam espaço em um cenário que se fragmenta entre aliados de Zema e bolsonaristas mais alinhados a Bolsonaro.
A relação entre o Novo e o PL também segue marcada por ambiguidades. Apesar de Zema tentar aproximar as legendas, o histórico de votações contrárias ao governo na Assembleia Legislativa demonstra a dificuldade em consolidar essa aliança. Por outro lado, a busca de Zema por um entendimento mais amplo com o PL reflete sua preocupação em conter o avanço da esquerda no estado, especialmente diante de um campo conservador que corre o risco de se dividir em 2026.
Esse cenário expõe os desafios estratégicos de Zema. A aposta em Mateus Simões, apesar de elogiado pelo governador, enfrenta resistências no eleitorado e dentro do próprio campo político de direita, onde Cleitinho surge como o nome mais competitivo. A fragmentação entre as forças de direita, caso não seja contida, pode enfraquecer o projeto de sucessão de Zema e abrir espaço para que a oposição de esquerda capitalize essa divisão.