Desabafo de um Ex-Tático Móvel: Realidade de Quem Vive o Combate na Linha de Frente
"Os senhores só esqueceram de contar o resto da missa pra eles. O treinamento é a parte mais fácil. Alguém contou que, na maioria das ocorrências, as coisas precisam ser arredondadas? Mesmo assim, você vai responder criminalmente e/ou administrativamente, gastar com advogado e, dependendo do caso, sair do Tático para ficar encostado em uma seção qualquer. Na melhor das hipóteses, vai para o plantão de REDS. Mas isso é o de menos.
Se você realmente gosta do que faz, se tem amor pela profissão, prepare-se para ser ausente com a família. Seus filhos vão sentir falta de um pai, sua esposa vai encher sua cabeça até você perder a calma, e você vai absorver tudo de ruim que tem lá fora. É bem provável que se torne anti-social. Depressão? Vai ter! Insônia? Vai ter! Agressividade? Também! Ameaças? Certamente!
Quando você perceber a escolha que fez, já pode ter perdido o bem mais precioso que um homem pode ter: sua família. Vai acabar sozinho e perturbado, sem família e sem amigos. E, se for tarde demais, vai fazer o quê? Vai se lamentar, chorar sozinho, porque ninguém vai sentir suas dores. No final, é só você e seus demônios. Não pense que é fácil; dar um tiro é fácil, difícil é conviver com isso.
Vocês não são uma máquina de combate. Prestem atenção: ninguém é indestrutível. O gás que vocês usaram ontem no vagabundo pode render uma denúncia por tortura. E o mesmo acontecerá com o traficante, o condutor embriagado, o marido agressor. Todos vão reclamar, e o processo sempre vem, cedo ou tarde. E então? Você terá que provar sua inocência. Se condenado, é rua.
Então, não se apaixonem pela ocorrência e não levem nada para o coração. O cidadão que te pede socorro é o mesmo que pode te expor nas redes. Se puderem escolher, escolham a família. Quando seus filhos te chamarem de fascista sem entender o significado, talvez seja tarde demais.
Acordar preferindo estar morto não é nada agradável.
Boa sorte."