O discurso
“Nesse meu último pronunciamento como oficial da ativa da gloriosa Polícia Militar de Minas Gerais, peço, de maneira humilde e intensa, que a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa não seja conivente com o desmonte da hierarquia e da disciplina militar na Polícia Militar de Minas Gerais. Infelizmente, aquele que defende o direito dos militares estaduais se tornou uma ameaça segura ao futuro de nossa instituição”, disse Piassi, no discurso de despedida.
O militar entregou o comando da corporação ao também coronel Carlos Frederico Otoni Garcia, que chefiava o gabinete militar do governador Romeu Zema (Novo).
“Com o argumento de valorizar e defender os interesses e necessidades dos militares estaduais, esse parlamentar tem sistematicamente atacado a coesão das tropas e solapado a estrutura de hierarquia e disciplina que sustenta a política militar. Para meu desalento, senhoras e senhores deputados estaduais, com um alinhamento aparente da Assembleia Legislativa, que permite uma espécie de discussão orgânica em uma de suas comissões permanentes – aliás, naquela onde se deveria tratar de um dos mais sérios problemas vivenciados no país: a segurança pública”, continuou o agora ex-comandante-geral da PM mineira.
Ao falar sobre a atuação de Rodrigues, Piassi lembrou do movimento que deu projeção ao político do PL: a greve dos PMs do estado em 1997. O movimento, que foi o primeiro do tipo no Brasil, passava por pedidos de aumento salarial e por melhorias nas condições de trabalho. A revolta ainda foi marcada pela morte do cabo Valério dos Santos Oliveira, baleado.
Durante a cerimônia de transmissão do comando da PM, um detalhe chamou a atenção de espectadores do evento: o desfile das tropas foi liderado pelo coronel Garcia, o novo líder da corporação, e não pelo antigo comandante, como tradicionalmente ocorre.
Dissonância ‘funcional’
Segundo o coronel, agora movido para a reserva da PM, as divergências com Rodrigues não são pessoais, mas de cunho “funcional”.
“Suportamos e suportaremos quaisquer problemas enquanto as bases da hierarquia e da disciplina estiverem sólidas”, opinou. “Liderar movimento grevista, incitar policiais militares a paralisar suas atividades e a desobedecer as ordens de seus superiores hierárquicos não são atitudes que possuem, a meu ver, elo com as atividades político-legislativas”, apontou, instantes depois.