sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Estrita legalidade



VIOLÊNCIA CRESCENTE

Em estabilidade há 11 anos, homicídios crescem 20% na Grande BH no 1º semestre de 2024

De janeiro a junho, foram 445 assassinatos nas 24 cidades da região metropolitana de Belo Horizonte; em 2023 foram 371 registros no mesmo período




Por José Vítor Camilo e Isabela Abalen
Publicado em 23 de agosto de 2024 | 07:00

De 2013 a 2023, as 24 cidades da região metropolitana de Belo Horizonte mantiveram a taxa de homicídios em uma certa estabilidade, com as únicas altas registradas de 0,31% em 2016 e 0,25% em 2022. Um quadro que mudou em 2024, conforme indicam dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais. Após 11 anos, o número saltou quase 20% no primeiro semestre de 2024, coincidentemente, mesmo período em que a Grande BH vem acompanhando disputas violentas entre facções de Rio e São Paulo. Enquanto isso, como divulgou O TEMPO na segunda-feira (19 de agosto), o Estado cortou pela metade o investimento em inteligência, principal arma para se combater o avanço das organizações criminosas, segundo especialistas. Foram consideradas as cidades que constam na lista do governo de Minas como sendo da região metropolitana, outras entidades consideram que há 34 municípios na Grande BH. 

Os dados abertos de “Vítimas de homicídios consumados”, que são atualizados mensalmente pela Sejusp, apontam que, nos seis primeiros meses deste ano, 445 pessoas foram assassinadas nos municípios, um aumento de 19,95% em comparação ao mesmo período de 2023, quando foram registradas 371 mortes. Desde 2012, quando houve um aumento de 10,8% nos assassinatos, apenas dois anos apresentaram elevação no índice de assassinatos: 2016 e 2022.

Em 2024, porém, a elevação nos seis primeiros meses já foi duas vezes maior que o último aumento expressivo. O mês de maio foi o que apresentou maior aumento nos assassinatos registrados, ultrapassando 90% de elevação. As mortes passaram de 43 em 2023 para 82 em maio deste ano. A pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ludmila Ribeiro, pontuou que a elevação na estatística é consequência não somente da disputa entre facções por territórios na Grande BH, mas, também, da maior circulação de armas em Minas Gerais, Estado que apresentou um aumento de 175% nas armas registradas.

“Essas investidas das facções para tomar um pouco mais o mercado mineiro têm um protagonismo nesse aumento, até porque a gente está falando de uma rota de passagem e de um grande mercado consumidor. Mas a gente precisa conjugar uma série de fatores para que possamos ter uma compreensão um pouco mais acurada do que tem acontecido”, pondera a estudiosa do assunto. “Esse também é um período que coincide com uma maior disponibilidade de armas de fogo, o que impacta sobretudo no que a gente chama de ‘crimes da violência cotidiana’, que antes não tinham desfechos fatais, como, por exemplo, o caso da criança morta baleada após uma briga na BR-381”, lembra Ludmila.

“O crime está sendo fortalecido, e existe uma sobrecarga”, diz policial 

Um policial militar lotado na região metropolitana, ouvido pela reportagem sob anonimato, desabafa sobre a situação de sobrecarga imposta à corporação, que tenta concorrer com o avanço das facções. “Existe uma sobrecarga do sistema de segurança. O baixo efetivo policial não consegue fazer a prevenção e repressão deste tipo de crime com eficiência. Nós usamos as mesmas armas de anos de efetivo, enquanto os criminosos estão cada vez mais munidos com metralhadoras e fuzis. A conexão das organizações criminosas locais com os grupos de outros Estados ganhou muita força”, disse o policial, há 16 anos na corporação. 

O agente explica que as facções criminosas vivem uma disputa de territórios que ocorre por “imposição de força”. “É comum que sejam cometidos homicídios para desestabilizar as quadrilhas rivais”, acrescentou. De fato, em julho, após a morte de um dos maiores traficantes do Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, a Polícia Civil informou uma alta de homicídios na comunidade após criminosos começarem a disputar o território deixado.

Para o militar, o combate à criminalidade tem ocorrido de forma injusta. “É lamentável que tenha ocorrido um corte tão drástico no investimento em inteligência, tão importante para que as operações sejam efetivas. O crime está sendo fortalecido a cada dia mais, as facções crescem matando e lavando dinheiro. Isso é muito prejudicial para a comunidade como um todo. Nós, policiais, também somos 'clientes' do nosso próprio trabalho”, afirmou.

Mortes violentas assustam população

O primeiro semestre de 2024 foi marcado por assassinatos violentos, que vêm causando temor nos moradores de algumas das cidades da região metropolitana de Belo Horizonte. Em janeiro, Melissa Maria Ribeiro, de apenas 6 anos, morreu após ser baleada dentro do carro do pai, na BR-381, entre Betim e Contagem, durante uma suposta briga de trânsito. Em maio, uma chacina em uma festa de aniversário tirou a vida de três pessoas, entre elas duas crianças de 9 e 11 anos, em Ribeirão das Neves. 

Além disso, desde o início do ano, a disputa entre o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) vem sendo apontada como causa para uma série de assassinatos - inclusive com decapitação e desmembramento de uma das  vítimas -  na divisa entre Belo Horizonte e Contagem, mais precisamente nos bairros Urca, Confisco, São Mateus e Estrela Dalva. No bairro Jardim Felicidade, na região Norte da capital, o Terceiro Comando Puro (TCP) e o CV também travam uma guerra violenta.

Procurada por O TEMPO, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) informou que a pasta e as forças de segurança do Estado acompanham diariamente os índices de criminalidade nos 853 municípios mineiros “em busca de estratégias integradas que possam minimizar ou reduzir os impactos da ação criminosa em todo o Estado”.

“O Estado tem se desdobrado sob as estatísticas de homicídio apresentadas até o momento em 2024 e transformado esse esforço em estratégias preventivas, repressivas e ostensivas de redução de mortes. Vale destacar o trabalho coercitivo e preventivo realizado pela Polícia Militar em todos os 853 municípios do Estado, com destaque para as Patrulhas de Prevenção a Homicídios e para a Gestão de Desempenho Operacional (GDO) – ações que mapeiam locais e possíveis infratores e determinam tendências do acontecimento do crime, para uma repressão qualificada dos atos criminosos”, detalhou a pasta. 

A Sejusp afirmou ainda que, na área investigativa, a Polícia Civil desenvolve estratégias de combate à criminalidade por meio do seu serviço de “Inteligência e de Tecnologias”, potencializando forças em estratégias integradas de segurança pública com o Ministério Público (MPMG) e a Justiça. A secretaria citou ainda o programa “Fica Vivo!”, criado em 2003 no governo de Aécio Neves (PSDB), que envolve jovens de 12 a 24 anos em áreas de maior vulnerabilidade.

“Para citar outras importantes ações, vale mencionar que a Secretaria também apoia ações e operações integradas de combate a essa modalidade criminosa e criou a Agência Central de Inteligência, para maior coordenação e trocas de informações que ampliam o cerco ao crime. A Agência é a responsável pelo mapeamento de organizações criminosas e indicações de ações que possam atuar como pronta resposta ao crime”, completou. 

Atualizações acidente helicóptero corpo de bombeiros MG

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