quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Estresse e insatisfação no trabalho podem aumentar em 97% o risco de arritmia cardíaca




Pesquisa reforça que as condições profissionais têm importante impacto na saúde do coração



Por Bárbara Giovani

Muitas vezes, a rotina de trabalho se torna um poço de estresse e a frustração. E um novo estudo da American Heart Association demonstrou um dos efeitos que isso tem na prática: um risco até 97% maior de desenvolver fibrilação atrial. Trata-se de um tipo de arritmia cardíaca que pode levar à formação de coágulos sanguíneos, aumentando o perigo de um acidente vascular cerebral (AVC).

Quando o trabalho é estressante e pouco recompensador, sobe o risco de fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca, indica estudo.
Quando o trabalho é estressante e pouco recompensador, sobe o risco de fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca, indica estudo. Foto: kieferpix/Adobe Stock

Para o estudo, pesquisadores acompanharam registros de saúde de seis mil adultos durante 18 anos. No início da pesquisa, os participantes tinham, em média, 45 anos, e trabalhavam em cargos administrativos, chamados em inglês de white collar, e não apresentavam doenças cardiovasculares. Os indicadores utilizados para medir sentimentos de estresse e frustração foram o excesso de carga de trabalho e a falta de uma recompensa adequada para seu esforço (em termos de salário ou reconhecimento).

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Separadamente, a alta carga de trabalho sozinha foi associada a um risco 83% maior de desenvolver fibrilação atrial. Já o desequilíbrio entre esforço e recompensa aumentou essa probabilidade em 44%. Além disso, os registros apontam que, antes de encarar a fibrilação atrial, um terço dos participantes apresentou também doenças coronárias.

Os resultados foram publicados na revista científica Journal of the American Heart Association na última quarta-feira, 14.

Segundo Ricardo Pavanello, cardiologista do Hcor, em São Paulo, esse tipo de arritmia cardíaca é comum, mas aparece conforme a população vai envelhecendo. Os mais afetados são aqueles com mais de 70 anos, mesmo se não possuem nenhum problema cardíaco. ”A população estudada tinha entre 45 e 63 anos, então é bem mais precoce o aparecimento da fibrilação atrial. É, pelo menos, três vezes maior percentualmente (o risco do problema) do que se observa nessa faixa etária”, afirma.

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O cardiologista ressalta que os participantes do estudo apresentaram esses resultados mesmo seguindo comportamentos considerados saudáveis, como a prática de atividades físicas. Nenhum deles era alcoólatra ou sedentário, hábitos que reforçam os riscos de doenças cardiovasculares, de forma que a única interferência na saúde do coração observada foi o estresse no trabalho.

Trabalho e saúde

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Pesquisas anteriores já haviam demonstrado os danos que o estresse constante pode causar para a saúde do coração – e para o organismo, de maneira geral. De acordo com as evidências, quando prolongado, ele pode aumentar o risco de asma, úlceras, derrame, ataque cardíaco e até envelhecimento do sistema imunológico.

Para Pavanello, está evidente que cuidar da saúde cardiovascular hoje não se resume a controlar o colesterol e a pressão arterial. “Isso tudo é importante também, mas é fundamental estar em sintonia com os seus pares no trabalho e familiares, viver em um mundo onde a poluição não impacte tanto a qualidade do ar que você respira, ter menos violência (onde se vive), ou seja, os fatores psicossociais entram como uma preocupação relevante na saúde cardiovascular”, destaca.

O cardiologista afirma que já observa um movimento das empresas em relação a isso. Ele aponta, por exemplo, a preocupação em flexibilizar horários, possibilitar o trabalho remoto, promover atividades esportivas e recreativas no escritório, além de estimular ações que agreguem à vida do funcionário.

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Os perigos da fibrilação atrial

A falta de contração sincrônica entre átrios e ventrículos é a principal consequência da fibrilação atrial. Isso gera um represamento do sangue principalmente no átrio esquerdo, o que favorece a formação de coágulos. Eles podem se desprender da cavidade do coração e cair na circulação sanguínea, inclusive chegando ao cérebro. Por isso, a condição aumenta o risco de AVC isquêmico, de trombos nos vasos sanguíneos e também de insuficiência cardíaca.

Segundo os autores da nova pesquisa, as evidências servem como reforço da importância de reconhecer os riscos e lidar com esses estressores no trabalho.

Fuiiii

  Desejamos boa sorte aos que iniciam uma nova jornada em suas carreiras, agora em outras instituições. Que esta nova fase seja repleta de c...