Atuamos pioneiramente nas denúncias de assédio moral na polícia e corpo de bombeiros militar
Hoje ninguém denuncia, ao contrário são conviventes no silêncio institucional representativo.
A VIOLÊNCIA PERVERSA DO COTIDIANO
PEQUENOS ATOS PERVERSOS SÃO TÃO CORRIQUEIROS que parecem normais. Começam com uma simples falta de respeito, uma mentira ou uma manipulação. Não achamos insuportável, a menos que sejamos diretamente atingidos.
Se o grupo social em que tais condutas aparecem não se manifesta, ela se transforma progressivamente em condutas perversas ostensivas, que tem consequências graves sobre a saúde psicológica das vítimas. Não tendo a certeza de serem compreendidas, estas se calam e sofrem em silêncio.
Essa destruição moral sempre existiu, quer nas famílias, onde permanece oculta, quer nas empresas, onde pessoas não a levam em conta na época de muita oferta de emprego porque as vítimas tinham a possibilidade de trocar por outro. Hoje, elas se agarram desesperadamente ao seu trabalho, em detrimento de sua saúde, tanto física quanto psíquica.
Algumas se revoltaram e tentaram abrir processos, e o fenômeno começa a ser trazido à mídia, o que vem levando a própria sociedade a questionar-se.
É comum, em nossa prática terapêutica, sermos testemunhas de histórias de vida em que se distingue da realidade psíquica. O que chama a atenção em todos estes relatos de sofrimentos é que eles são recorrentes. O que alguém poderia jugar ser um caso único está, na realidade sendo vivido igualmente por inúmeros outros.
A dificuldade nas transcrições de caso clínicos reside no fato de que cada palavra, cada inflexão, cada alusão tem importância. Cada detalhe, se considerado isoladamente, parece insignificante, mas é o os eu conjunto que cria um processo destrutivo.
A vítima é envolvida nesse jogo mortífero e pode, por sua vez, reagir de maneira perversa, pois esse modo de relação pode ser utilizado por qualquer um de nós com objetivo de defesa. É o que leva, erradamente, à enunciação de uma cumplicidade da vítima com seu agressor.
Tive ocasião de ver, no decurso de minha prática clínica, que um mesmo individuo perverso tende a reproduzir seu comportamento destruidor em todas as circunstâncias de sua vida: em seu lugar de trabalho, com o cônjuge, com os filhos, e é esta manutenção de um mesmo comportamento que desejo aqui enfatizar.
Surgem, assim, indivíduos que deixam seu caminho juncado de cadáveres ou de mortos vivos. O que não os impede de se fazerem passar gato por lebre e de parecerem inteiramente adaptados á sociedade.
Autora: Hirigoyen, Marie-France - Assédio Moral: A violência perversa do cotidiano/Tradução de Maria Helena Kulmer - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000