A tensão entre os deputados estaduais Sargento Rodrigues (PL) e Caporezzo (PL) e o comandante geral da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), Rodrigo Piassi, escalou. O coronel, que trocou ataques com Rodrigues e Caporezzo em uma audiência pública na Assembleia Legislativa (ALMG) na última terça (16/4), foi novamente convocado pela Comissão de Segurança Pública para explicar, no próximo dia 2 de maio, a proposta de criar uma alíquota de 3% para financiar a assistência em saúde dos militares.
O tom subiu justamente após a participação de Piassi na última audiência, cujo objetivo era discutir a recomposição salarial de perdas inflacionárias de 41,6%. Quando teve a palavra, o comandante geral, que se pronunciou após 50 minutos do início da sessão, afirmou que foi à ALMG para ser ouvido e não para ouvir. “Agradeço que a palavra tenha sido transmitida a mim, porque acredito muito que, se fui convocado, não foi para ouvi-los. O senhor me chamou aqui para que eu seja ouvido”, provocou Piassi.
O presidente da Comissão de Segurança Pública, então, o interrompeu, dizendo que quem ditaria as regras seria ele. “Quem dirige os trabalhos sou eu. Não é o senhor, não é nenhum convocado, convidado ou secretário de Estado. Talvez eu vou ter que fazer novamente a leitura do artigo 120 do regimento interno (da ALMG) para o senhor”, ameaçou Rodrigues, que, após o comandante pedir, leu. O deputado já havia se irritado quando, logo no início, Piassi questionou se havia quórum suficiente para a audiência.
Além de Rodrigues, Caporezzo também se desentendeu com Piassi. O deputado e pré-candidato à Prefeitura de Uberlândia acusou o comandante de supostamente violar o sigilo funcional, contrariar a Lei Geral de Proteção de Dados e cometer improbidade administrativa ao expor os dados da sua ficha funcional como cabo na última audiência. O episódio levou Caporezzo e o presidente da Comissão de Segurança Pública a apresentar uma representação à Procuradoria Geral de Justiça pedindo a investigação de Piassi.
O comandante geral, que está à frente da PMMG desde janeiro de 2023, foi à ALMG atendendo a uma convocação após recusar um convite na semana anterior. A convocação é um instrumento de agravo utilizado por deputados. Caso as autoridades não justifiquem a ausência em até três dias e não proponham nova data e horas para prestar esclarecimentos, constituem crime de responsabilidade.
Dias antes da audiência, a redução do tempo de promoção de um soldado para cabo, de cinco para quatro anos, anunciada pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), no último dia 9, já havia virado munição contra Piassi. Rodrigues e Caporezzo compartilharam nas redes sociais uma montagem em que o comandante geral da Polícia Militar de Goiás, Marcelo Granja, elogia Caiado, que, segundo ele, “trouxe mais uma vez dignidade à nossa tropa”.
Em seguida, é reproduzido o trecho de uma participação de Piassi em uma audiência ainda em julho de 2023, em que o comandante geral da PMMG disse que sua opinião era “muito clara” e “imutável”. “É impossível nós diminuirmos neste momento a promoção dos soldados para cabos (de oito) para sete anos. Nós estamos vivendo um momento em que precisamos aumentar os interstícios em razão da Lei Federal 13.954/2019, em que tivemos o tempo de serviço aumentado para 35 anos”, alegou à época.Interlocutores da ALMG avaliam que o desgaste entre Rodrigues e o alto comando da PMMG particularmente já teria se aprofundado quando o deputado encerrou uma audiência após o chefe do Gabinete Militar do Governador, Carlos Frederico Otoni Garcia, aparecer à paisana. O coronel chegou a alegar que não estava exercendo a função como militar, mas, sim, como civil, o que não demoveu o deputado de remarcar uma nova sessão para uma semana depois. Ao Aparte, Rodrigues, que questionou a atuação de Piassi quando assessorou o governo Romeu Zema (Novo) para questionar a constitucionalidade da proposta para diminuir a progressão de soldado para cabo em Minas de oito para sete anos, apontou que o comandante geral foi à audiência com o intuito de “provocar, desrespeitar e ser petulante”. “A minha postura em relação a ele sempre foi séria. Eu não tenho postura de bajulação de secretário. Quem assistiu viu a serenidade com que conduzi os trabalhos”, alegou.
Já Caporezzo, que negou que o confronto tenha a ver com a pré-candidatura a prefeito de Uberlândia, afirmou que a relação “azedou de vez”. “Não é que o tom das críticas subiu”, observou. “Esse cara é arrogante e incompetente para ocupar o cargo que ele tem. Ele demonstrou a sua inépcia quando foi convocado para uma audiência pública e se comportou de uma maneira arrogante. Não são só os deputados Caporezzo e Sargento Rodrigues que têm dificuldades com ele. É o próprio Legislativo.”
A PMMG, por sua vez, foi procurada, mas, até a publicação desta reportagem, não se posicionou. Tão logo se manifeste, o posicionamento será acrescentado.