Marina Ramos/Câmara dos Deputados
O deputado Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, no plenário da Câmara
Aécio está de volta no cenário político mineiro e nacional. Paulo Paiva, em seu artigo em setembro de 2023, “Ouçamos a voz de Aécio”, diz que “sem sucesso ando procurando ouvir a voz de Minas, que há muito deixou de ecoar no cenário nacional. Incomoda-me o silêncio mudo de Minas. Aécio volta oferecendo-se a contribuir para a construção de um novo caminho de poder, equidistante dos extremismos, à direita e à esquerda, o que corresponde à tradição mineira”.
Aécio está de volta. Aécio provém de três linhagens políticas: de Tancredo Neves, seu avô, do consenso na política; de Aécio Cunha, seu pai, do diálogo na política; e de Francisco Dornelles, seu tio, da eficiência na administração.
Aécio foi eleito governador de Minas Gerais em 2002 com 58% dos votos válidos em 1º turno, reeleito em 2006 com 77% dos votos válidos em 1º turno. Em 2014, Aécio concorre com Dilma a Presidente da República, Dilma com 51,6% e Aécio com 48,4% dos votos válidos no 2º turno. Não fosse a candidatura de Pimenta da Veiga a governador de Minas Gerais em 2014, Aécio possivelmente teria sido eleito Presidente da República, mudando a história do país. Em Minas, ao invés de Aécio alavancar Pimenta da Veiga, Pimenta emprestou sua rejeição a Aécio, com os votos que deram a vitória a Dilma nas Eleições Presidenciais providos da diferença dos votos favoráveis a Dilma em relação à Aécio dentro de Minas Gerais. Era imprevisível.
Aécio tem poucos concorrentes em Minas. Zema foi eleito Governador em Minas em 2018 no vácuo do então desgaste do PT e do PSDB; reeleito em 2022 devido a Kalil, então Prefeito de Belo Horizonte, não ter alcance estadual para a disputa. Zema não apresenta maior densidade eleitoral para disputas majoritárias competitivas. Rodrigo Pacheco foi eleito Senador por Minas Gerais em 2018 com 20,5% dos votos válidos, para duas vagas no Senado, diante de candidatos pouco expressivos e na então inviabilização de Dilma como candidata. Vem a ser Presidente do Senado, o que é sem dúvidas meritório, mais como solução entre blocos do que por representatividade política. Teria que construir maior densidade eleitoral para pleitos majoritários competitivos. No PT, Patrus reúne a maior densidade eleitoral devido ao recall positivo de sua administração.
Faltam valores no Brasil ao “centro político”, a ocupação do vácuo, dos que sejam representativos, que apontem para um projeto político consensual para o país, diferentemente do que significa o “Centrão”, que configura um “estamento”. Na Pesquisa IstoÉ/Sensus em abril de 2022, previamente às eleições presidenciais, 46% do total do eleitorado manifestava que gostariam ou poderiam votar em outro candidato que não fosse Lula nem Bolsonaro, o que então não se verificou devido à “polarização” ocorrida, na lógica das “rejeições” na prioridade de se inviabilizar o oponente. Nos Estados Unidos, pesquisa recente da Reuters/Ipsos mostrou que 67% dos americanos gostariam de ter uma eleição sem Biden nem Trump, presos que ainda estão na “polarização”. Nas eleições presidenciais de 2022, Bolsonaro perdeu as eleições com 35% de aprovação de governo, chegando Lula hoje na casa dos 35% de avaliação de governo, o que dificulta sua reeleição a persistirem esses índices, na expressão prática de projetos opostos, não consensuais, e polarizados. Lula quebra o encanto do grupo social central que pende nas eleições de um lado para o outro, na falta de uma política econômica significativa de desenvolvimento e na sua política externa pouco ponderada. E perde apoio entre os mais pobres, devido à alta de preços de bens básicos. O conclame que há de vir é pelo apaziguamento na política e consenso de projeto econômico para o Brasil.