segunda-feira, 20 de novembro de 2023

O SERVIÇO ADMINISTRATIVO NAS FRAÇÕES DESTACADAS E OS MILITARES “BAIXADOS”

 O SERVIÇO ADMINISTRATIVO NAS FRAÇÕES DESTACADAS E OS MILITARES “BAIXADOS”



Uma realidade existente há décadas e que vem sendo menosprezada é a atividade administrativa nas frações PM destacadas, principalmente em sede de pelotões e companhias.

Antigamente existia a figura do Auxiliar Administrativo, nos Pelotões, e a do Sargenteantes nas Companhias, os quais eram devidamente reconhecidos pelos bons serviços que prestavam. Nas férias do sargenteante, geralmente algum auxiliar administrativo de outra fração acumulava as funções.

Tais atividades, pelo menos no papel, foram sendo extintas, muito embora a realidade seja muito diferente.

Hoje em dia, se compararmos com um passado não muito distante, o serviço administrativo aumentou de sobremaneira nas frações destacadas, sendo que a promessa foi sempre diminuir, contudo isso se torna impossível à medida que a PM “abraça” mais e mais responsabilidades e as seções demandam as frações diariamente. Como uma das poucas instituições realmente compromissadas com a segurança pública, a realidade não teria como ser diferente.


Em muitas frações destacadas, quem faz o serviço administrativo são militares dispensados definitivamente pela JCS por motivo de saúde, rotulados, estigmatizados, menosprezados, como “baixados”. Apesar de tal rotulação, desempenham as mesmas funções que os auxiliares administrativos e sargenteantes desempenhavam antigamente, com o acréscimo de inúmeras incumbências que antes não existiam.

Abrindo um parêntese aqui em relação às rotulações, será que os demais militares não pensam que a qualquer momento podem ser acometidos por alguma doença que os incapacitem de alguma forma? Para reflexão...

Muitos comandantes levam o mérito pelo serviço executado com garbo e brilhantismo pelos militares dispensados e não levam para o comando a realidade do serviço administrativo nas frações. Geralmente os militares empregados em tal atividade quase nunca ganham recompensas administrativas, nem se quer um mero elogio verbal.

Infelizmente o serviço administrativo é um serviço ingrato, com prazos apertados e cobranças impossíveis, as quais deixam os militares ansiosos, preocupados e muitos precisam de acompanhamento psicológico. Não à toa, os militares lembram com saudade de quando trabalhavam no serviço operacional, tinham mais autonomia, menos cobranças, tinham contato com o povo, com o ar livre. Para quem era dedicado ao serviço operacional, ir para administração é uma verdadeira “cadeia” e muitos que, queriam ir para a atividade meio, “quebraram a cara” com tanta demanda e nível de estresse. Em relação a esses últimos, muitos fizeram força para ir para o serviço administrativo e realmente conseguiram, mesmo sem saber lidar com a informática, algo crucial em tal serviço, sem serem organizados, cautelosos, disciplinados e “quebraram a cara novamente”. Os militares do serviço operacional, que não conhecem os pormenores do serviço administrativo deveriam passar pelo menos uma semana fazendo as atividades burocráticas para terem real noção da realidade que desconhecem. Muitos não aguentariam sequer um dia!

Para não falarem que estou exagerando, vejam algumas atividades administrativas nas frações destacadas: controle de carga horária diariamente, mensalmente e trimestralmente; lançamento da escala mensal no CAD Escala, lançamento de alterações na escala, dispensas, férias e licenças médicas; confecção de ofícios internos e externos; confecção da escala de serviço impressa e alterações; receber ofícios diversos e despachá-los; conferência de livros e planilhas; organização do celotex; controlas as denúncias recebidas, infratores contumazes, alvos prioritários; controlar os condenados à prisão domiciliar e demais medidas alternativas; operar o SEEU (Sistema Eletrônico de Execução Unificado) com os lançamentos de descumprimento, ciências e despachos decorrentes; realizar consultas nas ferramentas de inteligência; atendimento de telefone; auxílio ao CONSEP; relatórios estatísticos diversos como de furtos e crimes violentos; monitoramento dos índices criminais; subsidiar o comandante da fração com informações para reuniões de GDO; controle de NPA, redes de proteção e cumprimento dos serviços do portifólio; confeccionar REDS e BOS; operar o rádio; realizar reuniões diversas; fazer carta de operações diária e cartão programa; preencher planilhas diversas; confeccionar planos de segurança diversos; autuar REDS TC e controlar os materiais apreendidos em virtude de REDS TC, bem como providenciar sua destruição quando determinado pelo JECRIM; suprir a fração com matérias; providenciar junto a parceiros a manutenção das viaturas;  fazer termos de doação e recebimento, quando do recebimento de materiais; providenciar o lançamento do convênio no SIRCONV e confecção de todos documentos necessários para o lançamento; controlar gastos da fração; manter controle do Mapa Carga da fração e cuidar do patrimônio; manter controle e organização dos arquivos; controlar o gasto com combustível e anúncios decorrentes; comunicar com demais órgãos; fazer releases; atender o público externo; manter contato com a Defesa Civil; ser responsável por anúncios diversos; condensar documentos de demais frações subordinadas. Além dessas funções rotineiras, no serviço administrativo sempre aparece algo mais para fazer...

Conforme demonstrado, a carga de empenhos para os auxiliares administrativos é muito grande, sendo que, em algumas frações é necessário até a contratação de funcionários civis para auxílio ao militar responsável pela Adm.

Nos últimos dias está sendo aventado a possibilidade da movimentação de todos os militares dispensados existentes nas frações destacadas, pelo menos da RPM que trabalho, para as sedes de unidades ou de RPM. Isso seria um equívoco muito grande por parte da PMMG ao movimentar militares que fazem um serviço que NÃO IRÁ ACABAR, mesmo com promessas e mais promessas que o serviço diminuirá. Na PM isso é impossível, pois a burocracia faz parte da instituição, pelo próprio grau de esmero exigido para com o serviço e pela incapacidade das demais instituições.

Uma possível transferência poderia provocar verdadeiro caos em várias famílias, pois há militares que não se prepararam para isso, financeiramente e psicologicamente. Muitos deles desempenham excelentes serviços, inovam, são constantemente elogiados pelas seções (pois quem trabalha e conhece o serviço administrativo sabe reconhecer), criaram vínculos com as cidades nas quais trabalham, são referência no atendimento ao público, têm a tão sonhada casa própria, possuem esposas/ esposos que também trabalham, sem falar que muitos se empenham até muito além das suas dispensas, realizando prisões, conseguindo doações, etc. 

Estão aventando colocar tais militares em COPOMs regionalizados para atendimento do 190, despacho de viaturas, operação do CAD Web. Não desprezando tais serviços, pois são essenciais, esses militares são praticamente reconhecidos como “P Tudo”, pois dominam boa parte dos serviços de cada uma das seções existentes nas Unidades e o emprego deles no COPOM seria um desperdício para a instituição.

Se isso ocorrer, vai acontecer o seguinte: é fato que ALGUÉM TERÁ QUE FAZER O SERVIÇO e na sua grande maioria, não dá para delegar para outra fração, pois há demandas muito peculiares que exigem acompanhamento sistemático pela fração de origem. Igual ocorre em muitos destacamentos, os serviços de cada pasta serão divididos entre os militares do operacional, os quais não farão nem o serviço operacional bem feito, nem o serviço administrativo. Alguns militares que querem “morcegar”, aproveitarão a oportunidade para permanecer por um período maior no interior do quartel. Outros, que não têm aptidão para o serviço adm., farão tudo mal feito, não de propósito, mas, como dizia o sábio: “cada macaco no seu galho”, ou seja, temos que reconhecer as aptidões de cada um para ser melhor aproveitado na modalidade certa de serviço. Se os comandos das unidades acham que os comandantes de fração farão o serviço, estão enganados, vão delegar também e onerar o pessoal do operacional, pois não haverá fiscalização.

Enquanto isso, boatos de possíveis transferências são suficientes para causar desespero e desmotivação. Quem perde é a instituição. Os comandantes de unidades e de regiões deveriam sentar com os auxiliares administrativos e acompanharem pelo menos um dia de serviço para terem a noção de tudo que aqui foi falado, bem como que muitas situações não são repassadas a eles pelos comandantes de frações.

Melhor opção: reconhecer a necessidade dos auxiliares administrativos em todos os níveis, talvez para destacamentos seria mais prudente a contratação de funcionários civis, mas de pelotão para cima a demanda é maior, inclusive a de monitorar os destacamentos.

Se houvesse tal reconhecimento, o serviço riria fluir muito melhor e os militares estariam motivados.

Mas vocês podem me perguntar: e aqueles militares que querem fazer força para “baixar” e para assumir a função de algum militar já dispensado por ser mais antigo ou superior? Daí cabe ao comando ter essa sapiência tratando cada situação com justiça e imparcialidade e não jogando todos os dispensados na vala comum.

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