Caro leitor,
Gostaria de compartilhar uma experiência que me deixou perplexa e indignada. Trata-se do absurdo que é ter que comparecer para homologar um atestado, mesmo estando em um estado de saúde precário.
Imagine a seguinte situação: você está trabalhando em um plantão no interior, onde o efetivo já é extremamente reduzido. Após tentar ao máximo segurar a situação para não prejudicar ainda mais a equipe, você precisa sair no meio da madrugada. Afinal, é necessário comparecer ao Nais (Núcleo de Atendimento Integrado à Saúde) no dia seguinte.
Mas aqui começa o pesadelo. Com 40 graus de febre e uma infecção na garganta, mal consegue se alimentar. Chega ao Nais e precisa aguardar três longas horas até ser atendido pelo oficial médico, que gasta apenas três minutos para lhe fornecer um atestado de apenas um dia. O problema é que, além disso, você tem horas descontadas no banco de horas referentes aos dias de folga - algo que não faz o menor sentido.
Seu estado de saúde se agrava e você volta ao hospital conveniado para consultar outro médico, que lhe dá um diagnóstico diferente. Agora, precisa retornar ao Nais, mas descobre que não há médicos disponíveis nos próximos dois dias. Chega o dia de retornar ao trabalho e não lhe resta outra opção senão voltar ao hospital conveniado para obter mais um dia de atestado, pois simplesmente não possui condições para trabalhar.
É simplesmente surreal! O militar doente é tratado como um palhaço, sendo obrigado a ir e voltar entre hospitais e o Nais várias vezes durante a folga, mesmo estando doente, com febre alta e sem conseguir se alimentar adequadamente. Essa rotina exaustiva durante os três dias de folga, além do dia de serviço, apenas agrava o estado físico da doença e o estado mental e psicológico do indivíduo.
Infelizmente, é isso que se tornou a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros: um trabalho como qualquer outro, onde ninguém mais atua por sonho ou vocação. Esse vai e vem incessante enquanto se está doente simplesmente não faz sentido. Estamos cada vez mais doentes, tanto física quanto mentalmente. O governo não oferece ajuda e o comando age de forma soberba, sem ter a menor ideia do que realmente a tropa enfrenta. Ou talvez eles simplesmente acreditem que estão no topo do Olimpo, como deuses intocáveis.
Eu gostaria de poder cumprir meus 30 anos de serviço (atualmente tenho 34), porém, sinceramente, não acredito que chegarei até lá. A situação é desanimadora e desgastante. É preciso repensar urgentemente as políticas de saúde dentro das corporações militares.
Compartilho essa história não apenas como um desabafo pessoal, mas também para conscientizar sobre as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da segurança pública. É necessário lutar por melhorias nas condições de trabalho e valorização desses bravos homens e mulheres que arriscam suas vidas diariamente em prol da nossa segurança.
Atenciosamente,