terça-feira, 25 de julho de 2023

 

Os ‘excluídos’ das cívico-militares: alunos e professores denunciam excessos e pressão para deixarem as escolas

Relatos mostram que estudantes são expulsos até por uso de piercing e revelam rotina tensa entre docentes e PMs; defensor do modelo condena atitudes e diz que 'disciplina se conquista com respeito'

Por Bruno Alfano — Rio

 


Helena (nome fictício), de 16 anos, escolheu uma escola cívico-militar do Distrito Federal por necessidade. Não se interessava pelo formato militarizado, mas precisava estudar de manhã para trabalhar de tarde. Num dia de maio deste ano, não podia tirar o piercing. Gripada, ela não teve como remover a fina argolinha do nariz inflamado e dolorido.

Sua surpresa foi chegar à escola e se deparar com um PM que, irritado e aos gritos, lhe deu um ultimato: era o piercing ou a aula. Esse é apenas um dos muitos relatos de excessos, alguns enumerados numa denúncia do Ministério Público Federal, desde que o modelo de escolas cívico-militares, incentivado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, ganhou o debate nacional. Parte dos pais, atraídos pela disciplina militar e promessa de resultados pedagógicos, apoia o projeto, que agora chega ao fim no governo Lula.

— Ele ficou muito alterado e me mandou sair. Fui embora chorando — lembra Helena. — Fiquei desamparada na rua.

Aluna do 1º ano do ensino médio, a jovem tinha uma rotina pesada. Acordava às 4h30 para estar às 7h15 na escola. Pegava ônibus e metrô. Ela conta que se chegasse um minuto atrasada era barrada na porta — o que aconteceu uma vez. A adolescente diz que se submeter a regras duras era a forma de garantir vaga na rede pública e na parte da manhã.


https://extra.globo.com/google/amp/brasil/educacao/noticia/2023/07/os-excluidos-das-civico-militares-alunos-e-professores-denunciam-excessos-e-pressao-para-deixarem-as-escolas.ghtml