Assassinatos cometidos por policiais contra colegas acendem alerta sobre saúde mental das corporações
Coordenadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Juliana Martins, destaca que a abordagem mental nas corporações brasileira precisa mudar
Dois crimes chocantes envolvendo policiais, um em São Paulo e outro no Ceará, levantam uma pauta importante: a saúde mental dos agentes no Brasil. Nos dois casos, os policiais falavam em exaustão e reclamavam das lideranças da corporação, razões pelas quais cometeram os crimes.
O primeiro crime aconteceu na cidade de Salto, no interior de São Paulo. O policial entrou na sede de uma das companhias do batalhão da PM da cidade e efetuou disparos com arma de fogo contra dois colegas. As duas vítimas morreram.
O autor dos disparos era conhecido como sargento Gouveia. E, em vídeo exclusivo publicado pelo Fantástico, da Rede Globo, o policial fala em perseguição como motivo para cometer os crimes.
"Eu não aguento mais. Não estou dormindo. Meu casamento acabou. Ele não devia ter destruído a minha vida. Ele destruiu a minha vida. Então, é elas por elas. Isso aí. Esse é o motivo pelo qual aconteceu", disse Gouveia, que era famoso na internet por fazer abordagens mais tranquilas e é pais de seis filhos.
Caso similar no Ceará
Um inspetor da Policia Civil, Antônio Alves Dourado, matou quatro colegas policiais em uma delegacia, na madrugada deste domingo (14), e foi preso, na cidade de Camocim, no litoral do Ceará.
O suspeito entrou na delegacia regional da Polícia Civil, em Camocim, e matou a tiros os escrivães Antônio Cláudio dos Santos, Antônio José Rodrigues Miranda e Francisco dos Santos Pereira e o inspetor Gabriel de Souza Ferreira.
Em vídeo gravado após os crimes, Dourado também relatou exaustão e sentimento de revolta. "Fui humilhado, achincalhado, transformado com lixo e aqui estou, em frente a minha casa. Trabalhei de quarta a domingo porque eu fui defender uma colega que ficava sozinha no plantão. Humilhado, esquecido e traumatizado", disse em vídeo.
Policiais precisam de ajuda
Coordenadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Juliana Martins, destaca que a abordagem mental nas corporações brasileira precisa mudar. "É muito comum que individualizem o problema. Mas ele não é algo pontual ou um desvio de um agente", destacou.
"Isso não pode ser mal visto e não pode ser perseguido por conta disso. Não adianta pagar mal salário e carga de salários abusivas e ter um psicólogo para atender", completou Martins.
A reportagem do Fantástico conversou também com a tenente-coronel e psicóloga-chefe da PM de São Paulo, Adriana Nunes Nogueira. Em território paulista, há 4 afastamentos de policiais por dia por questões psiquiátricas.
No entanto, segundo Nogueira, pouco policiais pedem ajuda. "O sistema hoje acolhe menos de 1% da corporação. É importante que se submete a avaliação médica. Ele pode procurar um psicólogo civil e também um psicólogo militar", disse Nogueira.