segunda-feira, 22 de maio de 2023

 

Assassinatos cometidos por policiais contra colegas acendem alerta sobre saúde mental das corporações

Coordenadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Juliana Martins, destaca que a abordagem mental nas corporações brasileira precisa mudar

Compartilhar

FacebookTwitterLinkedInWhatsApp
Assassinatos cometidos por policiais contra colegas acendem alerta sobre saúde mental das corporações
Sargento Gouveia era conhecido como um policial gentil, mas matou dois colegas

Dois crimes chocantes envolvendo policiais, um em São Paulo e outro no Ceará, levantam uma pauta importante: a saúde mental dos agentes no Brasil. Nos dois casos, os policiais falavam em exaustão e reclamavam das lideranças da corporação, razões pelas quais cometeram os crimes.

O primeiro crime aconteceu na cidade de Salto, no interior de São Paulo. O policial entrou na sede de uma das companhias do batalhão da PM da cidade e efetuou disparos com arma de fogo contra dois colegas. As duas vítimas morreram.

O autor dos disparos era conhecido como sargento Gouveia. E, em vídeo exclusivo publicado pelo Fantástico, da Rede Globo, o policial fala em perseguição como motivo para cometer os crimes.

"Eu não aguento mais. Não estou dormindo. Meu casamento acabou. Ele não devia ter destruído a minha vida. Ele destruiu a minha vida. Então, é elas por elas. Isso aí. Esse é o motivo pelo qual aconteceu", disse Gouveia, que era famoso na internet por fazer abordagens mais tranquilas e é pais de seis filhos.

Caso similar no Ceará

Um inspetor da Policia Civil, Antônio Alves Dourado, matou quatro colegas policiais em uma delegacia, na madrugada deste domingo (14), e foi preso, na cidade de Camocim, no litoral do Ceará.

O suspeito entrou na delegacia regional da Polícia Civil, em Camocim, e matou a tiros os escrivães Antônio Cláudio dos Santos, Antônio José Rodrigues Miranda e Francisco dos Santos Pereira e o inspetor Gabriel de Souza Ferreira.

Em vídeo gravado após os crimes, Dourado também relatou exaustão e sentimento de revolta. "Fui humilhado, achincalhado, transformado com lixo e aqui estou, em frente a minha casa. Trabalhei de quarta a domingo porque eu fui defender uma colega que ficava sozinha no plantão. Humilhado, esquecido e traumatizado", disse em vídeo.

Policiais precisam de ajuda

Coordenadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Juliana Martins, destaca que a abordagem mental nas corporações brasileira precisa mudar. "É muito comum que individualizem o problema. Mas ele não é algo pontual ou um desvio de um agente", destacou.

"Isso não pode ser mal visto e não pode ser perseguido por conta disso. Não adianta pagar mal salário e carga de salários abusivas e ter um psicólogo para atender", completou Martins.

A reportagem do Fantástico conversou também com a tenente-coronel e psicóloga-chefe da PM de São Paulo, Adriana Nunes Nogueira. Em território paulista, há 4 afastamentos de policiais por dia por questões psiquiátricas.

No entanto, segundo Nogueira, pouco policiais pedem ajuda. "O sistema hoje acolhe menos de 1% da corporação. É importante que se submete a avaliação médica. Ele pode procurar um psicólogo civil e também um psicólogo militar", disse Nogueira.

Para policiais, decreto de uso da força não traz mudanças às normas já existentes Agentes de segurança afirmam que gesto de Lula se aproveita de crise na segurança pública de São Paulo para reafirmar protocolos utilizados

  Para policiais, decreto de uso da força não traz mudanças às normas já existentes Agentes de segurança afirmam que gesto de Lula se aprove...